O discurso sobre a ordem espacial do mundo e o fim das ilusões

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma síntese do texto “Geografia fim de século: o discurso sobre a ordem espacial do mundo e o fim das ilusões” de Paulo César da Costa Gomes. Esse texto foi publicado no livro “Explorações geográficas: percursos no fim do século” organizado por ele juntamente com Iná Elias de Castro e Roberto Lobato Corrêa.
Para Gomes, a Geografia não é uma ciência de síntese, ou seja, não é uma ciência voltada apenas em resumir os conhecimentos das demais ciências e descrever elementos. Segundo o autor, por um longo período a Geografia foi vista como uma ciência de síntese, que inicialmente deveria descrever os fenômenos que ocorriam na superfície terrestre, mas esse era um amplo muito amplo e complexo para uma única ciência. Depois passou a localizar e descrever aquilo que era visível (como plantas, formas e animais), mas essa metodologia era muito próxima do senso comum e não se qualificava como uma ciência útil para a sociedade. Nesse sentido, o autor apresenta que tais condições não eram suficientes para entender o uso, a importância e a apropriação de recortes espaciais com importante impacto e relevância para a sociedade. Logo, a Geografia precisou repensar a sua finalidade, passando a valorizar a crítica sobre os elementos de estudo a favor de um conhecimento social.



A DESCRIÇÃO DA REALIDADE SENSÍVEL

De acordo com Gomes o esforço da pesquisa geográfica coincidiu na descrição da realidade sensível durante o início da ciência geográfica, mas pela incapacidade de explicar o uso, a importância e a apropriação dos recortes espaciais, já não é mais trabalhado na atualidade da mesma forma de antes. A observação é uma metodologia essencial na compreensão dos fenômenos espaciais, mas não pode ser tratada como metodologia única para a compreensão de tais fenômenos, pois como o próprio autor coloca a visão nem sempre fornece um conhecimento seguro e confiável. O próprio autor cita o exemplo do Sol, pois de acordo com a descrição da realidade sensível, o Sol é quem gira ao redor da Terra e não o contrário. A observação é uma metodologia importante, mas deve está atrelada a outros meios de análise, de modo a fornecer um conhecimento mais confiável.

DUALIDADE FILOSÓFICA ENTE A GEOGRAFIA CLÁSSICA E A MODERNA

A Geografia clássica buscou apenas a descrição da realidade sensível, aproximando-se do senso comum. Nessa perspectiva, os pesquisadores da Geografia faziam descrições exaustivas e cansativas da paisagem, ou seja, daquilo que podia ser visto, gerando uma grande quantidade de dados que não havia nenhuma utilidade social, já que toda e qualquer pessoa era capaz de descrever a paisagem visível. Na Geografia moderna, a observação ainda continuou sendo uma metodologia importante, porém agora, o objetivo era refletir sobre o espaço, a sua produção, as transformações e suas conseqüências. Nesse sentido, a Geografia passou a ter um conhecimento útil para a sociedade, pois passou a pensar as práticas sociais de forma crítica.

RELAÇÃO HOMEM-MEIO NA PERSPECTIVA CLÁSSICA

De acordo com o texto, na perspectiva clássica o homem é visto como algo separado da natureza, até mesmo, como algo superior. Nessa perspectiva homem e natureza são produtos de crenças religiosas, de forma que os elementos foram determinados a serem da forma que estão, ou seja, o pobre nasceu para ser pobre e não pode torna-se rico. Assim, todas as explicações eram geradas a partir das crenças religiosas e o homem era o centro do mundo, na qual, o homem influenciava sobre a natureza, mas a natureza em si não influenciava no homem, essa natureza apenas poderia influenciar no homem por intermédio das doutrinas religiosas, que são manipulados pelas próprias vontades humanas.

CIÊNCIAS NOMOTÉTICAS E HIDROGRÁFICAS NA GEOGRAFIA

Para Gomes, a aproximação da Geografia com as ciências nomotéticas e hidrográficas, criou um quadro de ilusão e insegurança, ao acreditar que poderia criar um modelo para explicar cada fenômeno da ciência geográfica, na qual, tal modelo seria aplicável em todas as situações onde aquele fenômeno se apresenta, e ainda, pudesse tornar-se uma lei padrão e imutável. Para esclarecer esse raciocínio, o autor apresenta o exemplo da territorialidade animal para dela extrair conceitos de competição, domínio, seleção etc., na qual o exemplo citado não pode servir de modelo para explicar a territorialidade humana, pois não considera as relações sociais que existem nesse último. Sendo assim, a ideia de criar modelos universais para explicar determinados fenômenos não é cabível na Geografia, pois os modelos não se adéquam a todas as realidades e os fenômenos não possuem gênese e evoluções padronizadas e igualitárias.
As ciências nomotéticas buscam explicar os fenômenos com base em modelos e padrões que estabelecem explicações gerais para o fenômeno abordado, são afetadas pela corrente de pensamento teorético-quantitativa e geralmente os modelos projetados têm como base cálculos em dados matemáticos. As ciências nomotéticas estabelecem leis gerais para abordar um determinado fenômeno, toda vez que ele se repete, mesmo em espaço e contextos diferentes. Já as ciências ideográficas buscam explicar um fenômeno, com base em uma amostra, ou seja, analisando apenas uma parte do fenômeno e de um pequeno recorte espacial, na qual estabelecem leis gerais sobre o fenômeno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, a Geografia não é uma ciência de síntese, nem ao menos de pura descrição da realidade sensível, nem uma ciência de leis exatas e imutáveis. A Geografia estuda os fenômenos que se desenvolvem no espaço geográfico, na qual, interferem sobre a sobrevivência, a organização e a produção da humanidade. De acordo com Milton Santos o espaço geográfico é um sistema de ações e sistema de objetos, ou seja, o espaço na qual a produção humana e suas ações se manifestam. Assim, estudar o espaço geográfico requer métodos que vão muito além da simples descrição, simplificação de fenômenos em leis universais e/ou imutáveis ou da aplicação de fórmulas matemáticas, requer um olhar crítico e investigativo sobre os fenômenos, voltados numa análise aberta a discussões que considere as interações com diversas dimensões, escalas e fatores ao longo do tempo. Dessa forma, o conhecimento geográfico é baseado na reflexão dos dados obtidos, muitas vezes, são analisados com base na comparação de dados obtidos por mais de um método.

REFERÊNCIA

GOMES, Paulo César da Costa. Geografia fim de século: o discurso sobre a ordem espacial do mundo e o fim das ilusões. In: CASTRO, Iná Elias de; CORRÊA, Roberto Lobato; GOMES, Paulo César (orgs.). Explorações geográficas: percursos no fim do século. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

Por: Santos. Elaborado em: 28/09/2015. Publicado em: 05/09/2017. Atualizado em: 05/09/2017.
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