O paradigma da complexidade

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Reflexão sobre o texto “A expulsão do paraíso, ‘o paradigma da complexidade’ e o desenvolvimento sócio-espacial”. Atualmente, são vários os problemas sociais presentes no espaço urbano e no campo, incluindo a violência, a precariedade dos serviços coletivos, a desigualdade social, entre outros. Ao mesmo tempo, são vários os intelectuais que procuram soluções para esses problemas. Porém, muitos desses problemas são resultados de ações complexas, ou seja, praticadas por diversos grupos, em diversos locais e em diversas escalas de tempo, necessitando também de soluções complexas. Diante dessa situação, alguns intelectuais e responsáveis tentam aplicar soluções simplistas a esses problemas, tentando culpar ou combater apenas um dos vários elementos que formam o problema. Nesse texto é criticado o emprego de abordagens simplistas na busca de soluções de problemas complexos, fato que, ao contrário de resolver os problemas, na realidade pode aumentá-los.



O PARADIGMA DA SIMPLIFICAÇÃO SEGUNDO O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ESPACIAL

A partir da linha de pensamento do desenvolvimento sócio-espacial, podem-se destacar cinco características essenciais para a compreensão do paradigma da simplificação: monodimensionalidade; separação simplista entre endógeno e exógeno; abordagens monoescalares ou muito fracamente multiescalares; negligência para com o papel do espaço; e por fim caráter fechado, absolutizante, etnocêntrico e teleológico das teorias.
Monodimensionalidade: consiste na interpretação de um problema social, como o subdesenvolvimento, a partir da consideração de uma ou mais dimensão da vida social, excluindo as demais dimensões do estudo. Apesar de a sociedade ser composta por toda uma complexidade de diversas dimensões sociais (política, religião, economia, cultura, trabalho etc.), a monodimensionalidade se restringe a apenas uma ou poucas dessas dimensões, fazendo as dimensões selecionadas, a base para a resposta de um todo social, ao mesmo tempo, desconsidera a importância das demais dimensões.
Separação simplista entre endógeno e exógeno: leva em consideração apenas os fatores internos para explicar um problema social, como o subdesenvolvimento, de um determinado recorte espacial. Essa característica não leva em consideração a influência que áreas mais desenvolvidas podem estabelecer sobre áreas menos desenvolvidas, nem tão pouco, as diversas relações entre as várias porções espaciais do planeta que podem está acontecendo atualmente, ou que ocorreram no passado e geraram consequências na qual afetam o desenvolvimento dos países na atualidade.
Abordagens monoescalares ou muito fracamente multiescalares: muitos estudos negligenciam o fato de que os fenômenos que ocorrem em um determinado recorte espacial são influenciados por fenômenos de escalas maiores, ou seja, a pobreza em uma determinada cidade de um país desenvolvido é influenciada por fenômenos de ordem mundial ou que tem sua gênese distante daquele país, geralmente nos países desenvolvidos.
Negligência para com o papel do espaço: muitas teorias não levam em conta as relações de poder e domínio existente entre as diversas porções espaciais, pois tais relações são resultados de determinações de papeis entre os diversos espaços, e tais papeis influenciam na vida social e no desenvolvimento das porções espaciais envolvidas, um exemplo clássico é a chamada “DIT – divisão internacional do trabalho”.
Caráter fechado, absolutizante, etnocêntrico e teleológico das teorias: as teorias herdadas são de uma visão etnocêntrica, ou seja, tentam explicar os fenômenos a partir de uma visão ideológica do mundo desenvolvido, sem levar em consideração a visão do local de estudo. Dessa forma, essas teorias distorcem a realidade e ainda simplificam o conhecimento ao padrão de uma ideologia que partem das áreas mais desenvolvidas.

PARADIGMA DA SIMPLIFICAÇÃO SEGUNDO EDGAR MORIN

Para Edgar Morin o paradigma da simplificação opera por redução (do complexo para o simples, busca simplificar as diversas interações em um determinado fenômeno, busca elaborar leis que se apliquem a um ambiente complexo), rejeição (da eventualidade, da desordem, do singular, do individual), disjunção (entre o objeto e o seu ambiente, entre sujeito e objeto). O paradigma da simplificação busca o raciocínio linear e o reducionismo de interações complexas. Edgar Morin ainda apresenta que a ciência clássica corresponde a toda a tentativa científica que obedece ao paradigma da simplificação.

TEORIA DO CAOS

A teoria do Caos defende que pequenas “flutuações” ocasionais podem amplia-se de forma a produzir imprevisíveis ações, ou seja, ações pequenas podem, com o passar do tempo, transforma-se em ações de grandes proporções alcançando resultados imprevisíveis. A teoria é aceita atualmente para explicar o que aparentemente era encarado como um evento desordenado ou caótico. Nesse sentido, a organização atual do mundo, ou seja, do universo, da evolução e distribuição dos seres vivos, entre outras, faz parte de pequenos eventos do passado, que ao seu início eram insignificantes, mas com o tempo, tomaram proporções imprevisíveis.
A teoria do Caos pode ser aplicável também na organização sócio-espacial, pois as grandes organizações e sistemas da sociedade são resultados de pequenas ações aparentemente insignificantes que ocorreram no passado, porém, desenvolveram-se de forma imprevisível, resultando na organização social atual. Nesse sentido, pequenas ações da atualidade, como até mesmo uma conversa entre duas pessoas, pode ocasionar um movimento que consequentemente gere mudanças de grandes proporções na sociedade.
É importante destacar que o texto comenta que por mais que alguns autores defendam a ideia que o sistema capitalista tende torna-se estável, dentro desse sistema, existem subsistemas formados por grupos sociais de diferentes interesses, alguns estão sendo beneficiados e querem a continuação do sistema, outros estão sendo prejudicados e querem a destruição do sistema. Enquanto houver essa diferença de interesses, o sistema capitalista não deve ficar estável e como consequência podem evoluir movimentos que em longo prazo, podem causar grandes modificações no atual sistema, ou modificá-lo por outro.

OS PROBLEMAS DO SUBDESENVOLVIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE CAPITALISTA QUE SÃO CONSIDERADOS COMO DESORDEM E ORDEM PELA DIALÉTICA

O autor do texto inicia essa temática colocando que a desordem é encarada como algum negativo e até insignificante nas obras de grandes pensadores, como a de Marx. Porém o autor apresenta que a desordem pode gerar uma nova ordem, tal como a ordem pode gerar uma desordem. Sendo assim, a desordem não pode ser encarada sempre como algum negativo e a ordem não podem ser encarados sempre como algum positivo. Para demonstrar essa afirmação, o autor usa como exemplo a crise brasileira dos anos 80 e a sua ligação com a ascensão do tráfico de drogas.
Por volta dos anos 80 o Brasil sofreu com uma crise que abalou diversos países do mundo, tal crise foi resultado de problemas ocasionados pelo próprio sistema capitalista. O resultado da crise no Brasil foi o aumento do desemprego, o aumento da inflação e o corte dos gastos sociais pelo governo, criando um quadro de desordem que afetou principalmente a população urbana.
Mas esse quadro de desordem proporcionou condições fundamentais para o crescimento do tráfico de drogas nas áreas periféricas das grandes cidades, fato que gerou a criação de uma nova ordem, trata-se de uma organização voltada no tráfico de drogas com suas próprias regras de conduta, estrutura e visão de mundo.
Nesse sentido, a favela pode ser encarada como um espaço de desordem arquitetônica para os grupos políticos e empresariais, mas é um espaço de ordem arquitetônica para os traficantes que dominam aquele local, pois possuem as condições perfeitas para se protegerem e planejar as suas atividades. Ao mesmo tempo, as atividades e ações dos traficantes são vistas como ordem para eles mesmos, mas são vistas como desordem por outros grupos sociais.
Nesse sentido, fica claro que um mesmo fenômeno social pode ser desordem para um grupo e ordem para outro grupo social, tal como uma desordem pode gerar uma ordem e uma ordem pode gerar uma desordem, como no caso da ordem dos traficantes gerou uma desordem para outros grupos sociais ao praticarem suas ações de tráfico. Por fim, o autor deixa claro que a ordem e a desordem podem modificar conforme as escalas de análise e as distintas percepções dos diversos indivíduos e grupos sociais em seu estudo.

SINERGÉTICA

Qual contribuição poder dar a Sinergética no sentido epistemológico e metodológico nas explicações de problemas sociais complexos? O autor afirma que a Sinergética pode ser utilizada na compreensão de fenômenos sociais mais complexos, como o subdesenvolvimento, pois oferece condições de articulação mais consistente entre as dimensões econômicas, políticas e cultural, além dos condicionamentos espaciais relativos e sua confluência histórica no bojo de uma complexa dialética entre fatores endógenos e exógenos. Para tanto a Sinergética opera com o princípio dialético de que o todo é maior que a soma das partes, na qual fluxos diferentes, processos distintos correndo paralelamente no tempo e com durações e ritmos variáveis, mas eventualmente ou a partir de um determinado momento interagindo uns com os outros, propiciando fenômenos emergentes ao nível do todo.
Dessa forma, é possível associar as dimensões sociais e os fatores endógenos e exógenos aos fluxos e obter fenômenos emergentes no todo, compreendidos como os quais serão encarados como a ordem e desordem para os diferentes grupos sociais. A Sinergética compreende ainda a teoria do Caos, já que os fluxos que ocorrem das partes para o todo constituem com o tempo fenômenos totais.

PARADIGMA DA COMPLEXIDADE

O paradigma da complexidade busca romper com os raciocínios lineares e reducionistas do paradigma da simplificação, incorporando um enfoque que busca interações complexas (como a aplicação da Sinergética), além de admitir que não apenas a necessidade (determinidade), mas igualmente o acaso (como mostra a teoria do caos) são definidores da dinâmica do mundo real.
A Sinergética oferece condições de articulação mais consistente entre as dimensões diferentes de um determinado fenômeno, como a exemplo do subdesenvolvimento, na qual a Sinergética análise a articulação entre as dimensões econômicas, políticas e cultural, além dos condicionamentos espaciais relativos e sua confluência histórica no bojo de uma complexa dialética entre fatores endógenos e exógenos. Para tanto a Sinergética opera com o princípio dialético de que o todo é maior que a soma das partes, na qual fluxos diferentes, processos distintos correndo paralelamente no tempo e com durações e ritmos variáveis, mas eventualmente ou a partir de um determinado momento interagindo uns com os outros, propiciando fenômenos emergentes ao nível do todo.Dessa forma, é possível associar as dimensões sociais e os fatores endógenos e exógenos aos fluxos e obter fenômenos emergentes no todo, compreendidos como os quais serão encarados como a ordem e desordem para os diferentes grupos sociais. A Sinergética compreende ainda a teoria do Caos, já que os fluxos que ocorrem das partes para o todo constituem com o tempo fenômenos totais.
O paradigma da complexidade também admite a teoria do Caos, que defende que pequenas “flutuações” ocasionais podem amplia-se de forma a produzir imprevisíveis ações, ou seja, ações pequenas podem, com o passar do tempo, transforma-se em ações de grandes proporções com resultados imprevisíveis. Nesse sentido, pequenas ocorrências do acaso podem desencadear grandes mudanças no futuro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, o paradigma da complexidade busca romper com as principais características do paradigma da simplificação, como a Monodimensionalidade, na qual busca analisar um problema tomando apenas uma de suas dimensões como fator geral para analise. A Separação simplista entre endógeno e exógeno, que não considera a influencia externa sobre problemas de um determinado recorte espacial. As Abordagens monoescalares ou muito fracamente multiescalares, que não considera a influencia de fenômenos de escalas maiores sobre áreas internas, ou seja, de escalas menores. A Negligência para com o papel do espaço que muitas teorias não levam em conta as relações de poder e domínio existente entre as diversas porções espaciais, pois tais relações são resultados de determinações de papeis entre os diversos espaços. O Caráter fechado, absolutizante, etnocêntrico e teleológico das teorias: as teorias herdadas são de uma visão etnocêntrica, ou seja, tentam explicar os fenômenos a partir de uma visão ideológica do mundo desenvolvido, sem levar em consideração a visão do local de estudo..

REFERÊNCIA

SOUZA, M. L. A expulsão do paraíso, o ‘paradigma da complexidade’ e o desenvolvimento sócio-espacial. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (org.). Explorações geográficas: percursos no fim de século. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

Por: Santos. Elaborado em: 28/09/2015. Publicado em: 07/09/2017. Atualizado em: 07/09/2017.
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