Mulheres solitárias no Sertão

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Embora a maior parte das mulheres sertanejas terem se casado e formado uma família ainda jovens, o sertão não oferece condições satisfatórias para manter as famílias devido a problemas naturais e até mesmo sociais. Por esse motivo muitas pessoas migram do sertão para grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida e trabalho, geralmente esses emigrantes são homens casados que deixa suas mulheres no sertão a espera de respostas, porém algumas delas são abandonadas, ou seja, o marido emigra para outras áreas urbanas em busca de trabalho e não retornam, deixando as esposas sertanejas solitárias. Para entender melhor esse fato é necessário antes entender os problemas naturais e sociais que levam os casais sertanejos a tomarem essa decisão.



MULHERES ABANDONADAS NO SERTÃO

São diversos os problemas sociais que existem no sertão nordestino. Em muitas áreas do sertão não existe uma infra-estrutura que atenda a todas as necessidades da população, faltam escolas, escolas profissionalizantes, hospitais, comércio de bens e serviços, entre outros. Alguns desses elementos são indispensáveis para a população, como os serviços de saúde. Nessas condições a população é obrigada a desloca-se para outras áreas em busca dos serviços ausentes do sertão, que na maioria das vezes, estes serviços só estão disponíveis em cidades distantes das localidades dessa população, como por exemplo o serviço de saúde: quando alguma pessoa fica doente no sertão, ela tem que desloca-se para a cidade mais próxima de sua localidade que disponha do atendimento necessário, mas geralmente as cidades que dispões dos hospitais com esse atendimento estão bastante afastadas dessas localidades. Outro exemplo são as caravanas para comércio, pois as localidades do sertão geralmente dispõem apenas de produtos básicos, como alguns produtos de limpeza, higiene e alimentação, por esse motivo, a população do sertão organiza caravanas para comprar outros produtos no comércio mais desenvolvido de cidades distantes de sua área de saída.
Quanto aos problemas de ordem natural, destacam-se as consequências da seca nas atividades econômicas, que ao mesmo tempo também é um problema social. A maior parte dos sertanejos vivem da agricultura e/ou da pecuária, ou seja, de atividades econômicas que necessitam de boas condições de solo e de umidade, mas naturalmente o sertão não dispões dessas condições de forma eficiente para o desenvolvimento dessas atividades. Por esse motivo geralmente os sertanejos obtém apenas o suficiente para a sua sobrevivência básicas, não conseguindo gerar acúmulos suficientes para manter atividades comerciantes para lucro satisfatório.
Geralmente os sertanejos que dependem da agricultura desenvolvem suas atividades apenas uma vez por ano, no período chuvoso, a produção resultante é separada em duas partes, uma para o consumo próprio e outra para o comércio, para ambas as partes o resultado deve ser usado até a próxima atividade agrícola, ou seja, durante um período de uma ano (o resultado para esse consumo e comércio é respectivamente alimentação e adquirir dinheiro para supri outras necessidades básicas).
Todos esses problemas enfrentados pela população do sertão são principalmente de ordens sociais e políticas, pois o fato da população sertaneja esta dispersa no semi-árido nordestino e também por a região não despertar os interesses de empresários e economistas, o setor político não investe para minimizar os problemas do sertão, e quando investe, esse investimento não é voltado para a população que realmente necessita.
Em meio a todos esses problemas os casais tomam a decisão na qual o marido migra para os grandes centros urbanos em busca de trabalho e melhores condições de vida enquanto a esposa permanece no sertão a espera do retorno do esposo. Esse planejamento deve-se ao fato do marido não puder levar a esposa junto devido aos aumentos dos custos e riscos a ser enfrentados, como na cultura dos sertanejos o homem deve sustentar a mulher, cabe a ele o papel de parti em busca de trabalho.
Em muitos casos o marido parte apenas depois de ter filhos com a esposa, pois é nessa condição que aumenta a necessidade de aumento de renda da família e ao mesmo tempo é uma garantia para evitar traição de parte de ambas as partes principalmente da esposa.
O problema é que em alguns casos, os maridos emigram do sertão para os centros urbanos distantes, geralmente para cidades do Sudeste, em busca de trabalho e melhores condições de vida e quando alcançam esse objetivo e estruturam suas vidas, eles resolvem abandonar definitivamente a esposa e a família do sertão.
Esse caso acontece porque quando alguns esposos finalmente conseguem estruturar sua vida na área urbana acham mais viável abandonar a família do sertão e construir uma nova família com na área urbana em que voltar ao sertão para trazer a esposa sertaneja para a área urbana, além do fato que ele pode interessar-se em alguma mulher solteira da cidade e perder seu interesse pela mulher do sertão, chegando a decisão de abandonar todo sua família.
Esse fato é facilitado pela falta de comunicação e de relações existentes entre os parentes e a esposa sertaneja que estão no sertão (devido as condições de vida) e o marido emigrante.
Quanto as esposas abandonadas no sertão, em muitos casos elas ficam solitárias durante anos, na esperança do retorno do marido, mas ao perceberem que o marido não mais retornaria, algumas delas ainda conseguem casa-se novamente, mas outras permanecem sozinhas durante o restante da vida.
Para a família sertaneja o motivo do marido não ter retornado sem ter acesso a nenhuma informação sobre o caso reflete em várias interpretações, desde a morte do esposo até o abandono, principalmente quando o esposo não retornava cartas ou qualquer outra forma de comunicação. Embora o marido tenha conhecimento da localização da esposa, ela depende de informações de retorno do marido para ter acesso a localização e condições de vida dele.
Para a esposa e os filhos abandonados resta a dependência de parentes, de iniciativa do trabalho próprio e quando os filhos crescem, a dependência deles. Essa é uma dependência tanto econômica quanto afetiva.
Esse problema tem como consequência uma maior quantidade de mulheres em que homens no sertão nordestino, principalmente de mulheres solitárias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, a grande quantidade de mulheres solitárias no sertão nordestino é conseqüência do êxodo rural a parti da emigração dos maridos em busca de trabalhos e melhores condições de vida que resolvem abandonar a família do sertão definitivamente.

REFERÊNCIAS

JUNIOR, Cledisson. A experiência sul-africana de reforma agrária. Enegrecer. Disponível em: <http://enegrecer.blogspot.com.br/2010/08/experiencia-sul-africana-de-reforma.html>. Acesso em: 31 dez. 2014.

ANDREW, Nancy. JACOBS, Peter. Nutrindo a pobreza rural – relações agrárias inalteradas na África do Sul. Pobreza, Desigualdade e Vulnerabilidade em Moçambiqui. Disponível em: <http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/pobreza/IESE_Pobreza_8.NutPob.pdf>. Acesso em: 31 dez. 2014.

Por: Santos. Elaborado em: 30/12/2014. Publicado em: 30/08/2017. Atualizado em: 30/08/2017.
Obrigado pela sua atenção, qualquer dúvida, falha ou sugestão, deixe seu comentário ou entre em contato conosco.

Nenhum comentário: