Sobrevivendo na seca

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho visa apresentar a influência dos períodos de estiagem prolongada sobre os agricultores familiares e pequenos pecuaristas do Agreste nordestino. Para tanto, este trabalho usou o exemplo da seca do início de 2013 sobre os pequenos agricultores e pecuaristas do Povoado Alagoinha em Coité do Nóia/AL.



A INFLUÊNCIA DA SECA NA ECONOMIA DO POVOADO ALAGOINHA

Alagoinha é um pequeno povoado do município de Coité do Nóia/AL, cuja população vive essencialmente da agricultura, pecuária e da prestação de serviços. No inicio de 2013 esse pequeno povoado foi afetado por uma temporada de estiagem, trazendo assim, prejuízos econômicos para os pecuaristas desse povoado.
A partir de uma entrevista com alguns criadores de gado do povoado em estudo, observações in loco, análise de fotos e de dados coletados no site da ONU Brasil, foi possível criar um panorama sobre a influência econômica da seca em áreas do Agreste nordestino.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013 o Nordeste brasileiro registrou a pior seca dos últimos 50 anos, com mais de 1.400 municípios afetados, gerando prejuízos econômicos e sociais para a população afetada. A seca também chegou ao município de Alagoinha em Coité do Nóia/AL, na qual, causou uma grande mudança nas paisagens do povoado e prejuízos econômicos, especialmente para os criadores de gado.
A imagem da figura 1 mostra os impactos da seca na vegetação de uma área de criação de gado, registrada no dia 29 de março de 2013. A área, que deveria está coberta de graminhas verde para alimentar o gado, encontra-se praticamente descoberta, com o solo à mostra. Geralmente nessa época do ano, a graminha aparece seca, com uma cor amarelada, porém nesse ano, a graminha praticamente sumiu. O gado faminto devorou até mesmo a graminha seca do solo, pois a escassez de chuva impediu a reposição desse vegetal nas áreas de criação de gado por um longo período.



A diminuição de graminha é um aspecto normal na localidade para essa estação do ano, o verão, por esse motivo, normalmente os criadores de gado se preparam com outros recursos para alimentar o gado, como a plantação de palma e da chamada macaxeira, uma vez que o caule do Aipim também é usado como alimento pelo gado. O problema da estiagem de 2013 foi que esses recursos foram esgotados e ainda assim, a falta de chuva persistiu, como resultado os criadores de gado ficaram sem recurso para alimentar o gado, como detalhado por um pecuarista (2013) de Alagoinha “quando o capim secou, comecei a colocar palma para o gado comer, mas a palma foi acabando e a chuva não chegava, até que toda a palma acabou e passei a compra maniva para o gado, só que como a maniva estava muito cara e ainda assim corria o risco de acabar, eu colocava todos os dias apenas um pouco da maniva para o gado [...], daí percebi que o gado após comer a maniva, ainda tentava comer as raízes do capim que existia”.
Segundo o pecuarista após o esgotamento dos recursos para alimentar o gado, ele, assim como também outros criadores de gado da localidade passaram a compra tais recursos. Porém, devido a grande demanda por parte de vários criadores, o preço desses recursos subiu rapidamente. Assim, quanto mais a seca se prolongava, mas o preço dos recursos de alimento para o gado aumentava, devido à diminuição da quantidade disponível desses recursos.
Devido ao constante aumento do preço de alimentos para o gado, os criadores foram obrigados a compra quantidades de alimentos insuficientes. Dessa forma, o gado ficou cada vez mais magro e fraco, em tentativa de se alimentar de todo e qualquer detrito da graminha seca que encontrava no solo, fato esse que resultou no solo seco a mostra da imagem da figura 1.
Para diminuir os efeitos da seca, os criadores de gado passaram a alimentar o gado com sobras de alimentos humanos e tudo aquilo que o gado pudesse comer.
Um pecuarista (2013) falou que “no começo, quando a palma estava acabando, vendi parte do meu gado por menos da metade do preço, agora, alimentando o gado com maniva, quando tentei vendi algumas cabeças de gado, não encontrei comprador”. Como mostrado pelo pecuarista, com a seca, devido a aparência fraca e magra do gado, o preço do mesmo despencou no mercado, de forma que o comércio de gado gerava apenas prejuízo para os criadores. Além disso, devido a seca a maior parte da população não tinha condições para investir na atividade pecuarista, apenas na própria alimentação.
Assim, verifica-se a ação das características do capitalismo sobre os pecuaristas do povoado Alagoinha, principalmente a busca do lucro e a ação da lei da oferta e da procura. Quanto a busca do lucro os criadores tentavam estabelecer relações na qual terminasse em lucro, como o fato de usarem estratégias para manterem o gado sobre seu domínio, pois a morte ou venda do gado resulta em grande prejuízo, ao tempo que no fim da seca, os alimentos para o gado serão repostos e toda dificuldade de criação será recompensada. Quanto a lei da oferta e da procura, verifica-se que quanto mais prolongada a seca, maior o preço dos recursos usados para alimentar o gado e menor o preço do gado em si, devido ao aumento da procura e diminuição da quantidade de alimento para o gado.
Enquanto para os criadores de gado, a seca representa um fator de prejuízo, para os plantadores de macaxeiras, que disponibilizavam o Aipim como recurso de alimentação para o gado, a seca apresentou-se como um fator de lucro, devido a grande demanda do Aipim.
Também se verifica o sentimento de parte dos criadores pelo gado, alguns pecuaristas possuem relações especiais com parte do rebanho, relações essas, que vão além da economia e atingem os sentimentos, na qual o animal torna-se um ser especial na vida daquela pessoa.
Além dos problemas com a falta de alimentos, a estiagem em Alagoinha também resultou em falta de água para o gado, pois os açudes, barragens e riachos menos profundos praticamente secaram, gerando dificuldades para os criadores de gado. Assim, muitos criadores tâm que buscar água em lugares distantes para fornecer ao gado, como mostra a seguinte citação de um criador (2013) de gado da Alagoinha “a barragem que o gado bebe água ta quase seca, já no final, e ainda assim, a água que tem ta num lameiro bravo, todo dia eu carrego água para colocar no coxo, que eu não gosto de ver o gado bebendo aquela água não”.

O FIM DA SECA

Com a chegada de uma temporada de chuvas no final de abril, os problemas da seca na criação de gado foram minimizados, pois a graminha enraizou no solo, modificando significativamente a aparência das áreas de criação de gado, na qual foi tomada pela coloração verde, até então ausente. Assim, o gado voltou a ter alimento e água de forma satisfatória.
Com as mudanças provocadas pela chuva, o gado voltou a se alimentar de forma suficiente para sua sustentação e posteriormente ganhou valor no mercado. Embora a chuva tenha resolvido os problemas vigentes, ainda não compensou todos os prejuízos deixados pela seca, ou seja, não cobriu os prejuízos econômicos que os criadores de gado obtiveram durante o tempo da seca, como os gastos com recursos de alimentos e outros.



A IMPORTÂNCIA DE UMA PREPARAÇÃO PARA A ESTIAGEM

Tendo em vista a possibilidade de novas longas temporadas de estiagem, é essencial que os criadores de gado preparem-se para enfrentar esse tipo de fenômeno, assim, evitando que os problemas gerados no inicio de 2013 não se repitam novamente. É difícil uma prevenção total, mas é indispensável, pelo menos uma prevenção parcial, como a plantação de palma e apim em quantidade extra, para no caso, de enfrentar novos períodos de longa estiagem. Também é importante que os criadores de gado se organizem para enfrentar esse tipo de problema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, verificou-se a existência das características do capitalismo na vida dos criadores de gado do povoado Alagoinha, como resultado da influência da seca no povoado ocorreu mudanças nas relações da lei da oferta e da procura entre os criadores de gado e os produtos pecuários do campo.

REFERÊNCIAS

Pior seca no nordeste brasileiro confirma estatísticas da ONU sobre escassez. Grupo Acqua. Disponível em: <http://redeacqua.com.br/2013/04/pior-seca-no-nordeste-brasileiro-confirma-estatisticas-da-onu-sobre-escassez/>. Acessado em: 13 mai. 2013.

DANELLI, Sonia Cunha de Souza (res.). Projeto Araribá: geografia. São Paulo: Moderna, 2007. 8º ano.

Clique aqui para baixar a entrevista com um morador do povoado Alagoinha em Coité do Nóia/AL sobre a estiagem de 2013.

Por: Santos. Elaborado em: 13/04/2013. Publicado em: 22/08/2017. Atualizado em: 22/08/2017.
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