Lajedo Pai Mateus na Paraíba

APRESENTAÇÃO

Os lajedos são significativas extensões de rochas cristalinas na superfície terrestre, como o Lajedo Pai Mateus na Paraíba, considerado o maior em extensão territorial no nosso país. Confira nesta página, algumas imagens e informações sobre a formação, a evolução e as principais características sobre o Lajedo Pai Mateus.



VÍDEO

Confira um vídeo sobre o estado da Paraíba que mostra algumas imagens e informações sobre o Lajedo Pai Mateus em Cabaceiras/PB. Além disso, confira algumas imagens da Pedra do Tendó e da cidade de João Pessoa/PB.



LOCALIZAÇÃO

Localizado na microrregião do Cariri, o Lajedo Pai Mateus em Cabaceiras/PB, possui 11,5 Km de extensão e é um ótimo local para excursões acadêmicas e turísticas (Confira a localização do Lajedo Pai Mateus no Google Mapas). Vale lembra que o Cariri é marcado pelo clima do semiárido, embora regionalmente não faça parte da região do Sertão paraibano.

FORMAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

A parir de um trabalho de campo realizado no dia 1 de setembro de 2013 com a participação do orientador Djair Araújo Fialho e de um levantamento bibliográfico foi possível realizar um relatório de dados sobre a importância e a formação do Lajedo Pai Mateus. Além disso, também foi possível identificar e explicar a ocorrência de fenômenos geológicos-geomorfológicos comuns na Região Nordeste do Brasil, em particular no Planalto da Borborema.
Próximo ao lajedo pode ser visto uma formação rochosa quadrática chamada de Saca de Lã, conforme mostra a imagem abaixo. Essa formação rochosa é resultado dos processos do intemperismo, da erosão e da movimentação interna de nosso planeta.



Segundo o guia de campo, Djair Araújo Fialho, existe uma grande variação de temperatura ao decorrer do tempo, durante o dia as temperaturas chegam a atingir até 40°C e durante a noite existe uma baixa de temperatura para até 25°C. Essa diferenciação de temperatura ocorre em quase praticamente todos os dias do ano, já que o Lajedo esta localizado numa região de semiárido, com cerca de 400 mm de chuvas anuais e uma evapotranspiração anual de aproximadamente 1500 mm. Esse fato resulta em um balanço hídrico negativo para a região, com uma perda hídrica de aproximadamente 1100 mm a cada ano, com ocorrência de pouco intemperismo químico, resultando em solos mais rasos e poucos desenvolvidos, já que este é produzido muito lentamente.
Porém, registros de pluviômetros mostram a ocorrência de eventos de chuvas com até 200 mm em um dia, esse registro é resultado de chuvas torrenciais – aquelas com uma grande intensidade para um curto intervalo de tempo – essas chuvas são características da região e marcam a má distribuição das chuvas na área, uma vez que os 400 mm anuais são distribuídos em poucos eventos.
O fato de ocorrerem poucos eventos de chuvas, mas esses eventos serem caracterizados por chuvas torrenciais com elevado escoamento superficial e posteriormente uma elevada taxa de erosão, uma vez que o solo não tem condições de infiltrar a grande quantidade de água da chuva torrencial.
Como os solos da região são rasos e poucos desenvolvidos, a intensa erosão causa uma remoção mais intensa que a produção do solo, e em algumas áreas a erosão chega a remover praticamente todo o regolito (camadas do material resultante da decomposição das rochas), e consequentemente expões a camada de rocha sã (rocha inalterada), formando assim os lajedos, tal como o lajedo Pai Mateus, conforme mostra a figura 2.



As condições climáticas do semi-árido não apenas proporcionaram a formação do lajedo, como também caracterizaram a existência de rios temporários com alto nível de assoreamento, como consequência da elevada erosão do regolito levado pelas chuvas torrenciais da região.
Ao observar o Lajedo de Pai Mateus, como mostra a imagem anterior, nota-se que além da camada de rocha exposta na superfície, verifica-se ainda a existência de grandes bolas rochosas sobre o Lajedo, que foram formadas por um processo de intemperismo. Porém, a explicação para a formação dessas grandes bolas rochosas não esta no intemperismo químico, ou seja, aquele provocado pela reação da água das chuvas nas rochas, uma vez que o granito é bastante resistente ao intemperismo e são poucos os eventos de chuvas na região, mas a explicação esta no intemperismo físico decorrente das variações de temperatura ao longo do tempo.
O lajedo é formado por Plutão Bravo, um tipo do granito. O granito é uma rocha plutônica, ou seja, formada a parti do lento resfriamento do magma ainda dentro da crosta terrestre. Estima-se que a milhões de anos, o magma penetrou na crosta terrestre exercendo uma pressão em seu interior, a medida com que o magma subia, ele resfriava-se, se transformando no Plutão Bravo, que ainda sobre a pressão da subida do magma, resultava no rompimento da superfície terrestre e exposição do Plutão Bravo nessa superfície.
O Plutão Bravo adquire fraturas formando uma estrutura quadrática, que posteriormente formara a Saca de Lã mostrada na imagem anterior. A figura 3 mostra a formação do Plutão Bravo na forma quadrática, a ilustração a apresenta a subida do magma na crosta terrestre, nota-se a medida que sobe, o magma exerce uma pressão em sentido vertical, e mais superficialmente em sentido horizontal, como forma de romper a crosta terrestre. O resfriamento do magma ocorre no contato entre magma e as rochas da crosta, esse é um ponto bastante influenciado pela pressão magmática. Posteriormente a formação do Plutão bravo ocorre sobre a influencia dessa pressão e da direção dessa pressão, que fazem as rochas obedecerem uma estrutura quadrática em consequência das direções horizontais e verticais ocasionadas na pressão (ilustração b). As fraturas que formam a forma quadrática são uma consequência da pressão magmática “desenvolvidas pelo alivio de pressão e ação de esforços atuantes sobre a crosta terrestre” (LAGES; et. al. 2013).



Lages indica a ocorrência de períodos de condições climáticas quentes e úmidas na área do semi-árido em que se encontra o Lajedo Pai Mateus, ao qual possibilitaram uma maior intemperização das rochas, como mostra o seguinte trecho de seu trabalho:

O nível de base local preservado nesta bacia, possui registro de vegetação e feições vulcânicas específicas que sugerem condições de clima quente e úmido favorecendo processos intempéricos químicos. Parte dos perfis intempéricos preservados na bacia, foram descritos e datados por Lima (2008), possuindo idades de 40Ar/39Ar, em holandita e criptomelana, em 15,8 e 2,4 Ma, o que sugere a recorrência dessas condições. Outros picos de idades em minerais autigênicos e/ou supergênicos [combinando métodos 40Ar/39Ar e (U-Th)/He] em 28, 17-15, 10, 5,5-3,5 e 1,5 Ma obtidos em perfis de intemperismo nas áreas representantes de diversas superfícies da Província Borborema também são interpretados como resultado de precipitação química em ambientes quentes e úmidos. Esses sucessivos estágios paleoclimáticos modelaram estas rochas formando tors, matacões arredondados e latossolos que posteriormente foram removidos diferencialmente em estágios cíclicos mais secos como parte de um amplo processo de pediplanação incluindo remoção de extensa parte da bacia [...] (LAGES; et. al. 2013).

Lages mostra que com o intemperismo e a erosão, os blocos quadráticos são separados, formando as Sacas de Lã, que é o estagio inicial do processo de intemperização das bolas rochosas que formam o lajedo Pai Mateus. No caso, o intemperismo é provocado principalmente pela dilatação e contração das rochas (intemperismo físico) e pela ação da água das chuvas (intemperismo químico). No primeiro caso, Djair mostrou que durante o dia as rochas dilatam devido a alta temperatura, porém a noite, com a baixa de temperatura as rochas contraem-se. Esse processo resulta no intemperismo físico das rochas, ou seja, com o constante movimento de dilatação e contração das rochas, elas se fragmentam gradativamente. No segundo caso, em decorrência das chuvas torrenciais e principalmente de períodos de condições climáticas quentes e úmidas na região que provocaram a ocorrência de chuvas, cuja água causou certa decomposição das rochas e ao mesmo tampo o transporte do material fragmentado. Esse processo ocasionou ao mesmo tempo erosão e intemperismo, modelando as rochas, para a formação da Saca de Lã, definida por Lajes como “feições geomorfológicas ímpares, que fazem alusão ao empilhamento de imensos blocos em estágio inicial de diaclasamento, que se assemelham aos fardos de algodão” (LAGES; et. al. 2013).
Os blocos de rochas retangulares espalhados pelo lajedo, formados em um longo processo de intemperismo – a Saca de Lã – devido a sua forte resistência ao intemperismo, devem iniciar um processo denominado de esfoliação esferoidal, ou seja, o arredondamento da rocha com a influência de agentes externos e internos, tal como a força dos ventos, da água da chuva e a força da gravidade, já os fragmentos intemperizados da rocha movimentam-se de lugar, geralmente saindo da estrutura da rocha para outro meio. Porém, durante esse transporte, os sedimentos são arrastados por cima das rochas, modelando suas vértices, fazendo a rocha adquirir uma forma esferoidal.
As rochas quadráticas são arredondadas por esfoliação esferoidal, em um processo evolutivo, na qual as rochas passam do estado de Saca de Lã para as bolas rochosas que podem ser visualizadas no Lajedo Pai Mateus, como mostra a imagem da figura 4.



Todos esses processos fazem parte da Geomorfologia regional do planalto da Borborema e do Lajedo Pai Mateus, que por sua beleza atraem turistas de diversos locais do Brasil e até mesmo de outros países, além de ser foco de pesquisas geológicas e paleontológicas, devido a sua importância histórica atribuída por vestígios de antigas civilizações que habitavam o Lajedo, como pode ser notado no trecho em que Lages cita:

Alguns matacões apresentam cavidades com o teto em forma de abóboda, formando abrigos onde são encontradas impressões de mãos humanas. Cita-se como exemplo as paredes do grande abrigo rochoso [...] que, segundo a tradição oral, foi habitado por Pai Mateus, um curandeiro ermitão do século XVIII. As referidas impressões foram produzidas sobre a rocha por mãos espalmadas, previamente molhadas em tinta feita com pó de óxido de ferro (ocre) e gordura animal [...]. O tamanho diminuto de algumas das mãos leva a crer, segundo Fialho et al. (2010), que o local tenha sido utilizado para a prática de algum rito de passagem. As “mesas” de granito, construídas pela superposição de grandes lajes tabulares e retangulares sobre quatro pequenos matacões arredondados, bem como a existência de muros rochosos obstruindo a passagem do vento e chuva nestes abrigos, são testemunhos da presença de edificações para moradia ou rituais (LAGES; et. al. 2013).

Portanto, o Lajedo Pai Mateus enquanto resultado do tectonismo, da intemperismo e da erosão, também é um importante atrativo turístico de Cabaceiras/PB e centro de estudos geomorfológicos.



REFERÊNCIAS

PENA, Rodolfo Alves. Importância da Geografia. Brasil escola. Disponível em: <www.brasilescola.com/geografia/importancia-geografia.htm>. Acessado em: 07 set. 2013.

LAGES; Geysson de Almeida; et al. Mar de Bolas do Lajedo do Pai Mateus, Cabaceiras, PB: campo de matacões graníticos gigantes e registros rupestres de civilização pré-colombiana. In: WINGE, M.; et. al. Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Disponível em: <http://sigep.cprm.gov.br/sitio068/sitio068.pdf>. Acessado em: 9 set. 2013.

CORRÊA, Antonio Carlos Barros; et al. Megageomorfologia e morfoestrutura do planalto da Borborema. In: Autor da revista. In: S.a. Revista do instituto de Geologia, São Paulo. 2010.

Por: Santos. Elaborado em: 03/09/2013. Publicado em: 19/08/2017. Atualizado em: 07/01/2018.
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