A história da feira livre de Coité do Nóia

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A feira livre é um fenômeno social antigo, que segundo Agapio (2014) “já eram conhecidos dos gregos e Romanos”. Em uma pequena cidade de Alagoas, chamada de Coité do Nóia, a história da feira livre municipal é até mais antiga do que a da emancipação do município. Neste sentido, vale uma análise histórica e econômica desse antigo fenômeno de comercialização, a fim de verificar a importância da feira livre para o desenvolvimento o comércio e da economia local de Coité do Nóia. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise sobre a contribuição da feira livre de Coité do Nóia para o desenvolvimento econômico do município e sua importância para os vendedores da feira. A metodologia utilizada se baseia em observações na área de estudo, relato de experiência de consumidores e vendedores, análise de dados fotográficos e fundamentação teórica com base em Pierri e Ribeiro (2005), além de dados disponibilizados pela prefeitura municipal. Assim, chegou-se a conclusão que a feira livre é um contribuinte fundamental para o desenvolvimento do comércio local, tal como é de relevante fonte de renda para seus vendedores, especialmente aqueles que sobrevivem da agricultura familiar.



As feiras livres são uma forma de comércio bastante antiga e tradicional, praticada em diversos municípios até os dias atuais, baseiam-se na prática da oferta de produtos através de eventos locais com aglomerações de barracas, sendo esse um fenômeno social antigo que predomina até os dias atuais, como mostra a Enciclopédia Luso-Brasileira (1995, apud Agapio, 2014) “as feiras são fenômenos econômicos sociais muito antigos e já eram conhecidas dos Gregos e Romanos. Entre os Romanos, por causa das implicações de ordem pública que as feiras tinham, estabeleceu-se que as regras de sua criação e funcionamento dependiam da intervenção e garantia do estado. O papel das feiras tornou-se verdadeiramente importante a partir da chamada revolução comercial, ou seja, do século XI. Daí em diante, seu número foi sempre aumentando até o século XIII”.
Já se tratando da importância da feira livre para o Brasil, Anjos et. al. (2005, apud Pierri e Valente, 2010) afirma que “no Brasil, a origem das feiras data do período Colonial, momento em que multiplicaram-se rapidamente, assumindo o importante papel de abastecimento de alimentos dos primeiros adensamentos humanos. Cumpriu assim outro papel, o de verdadeiro elemento estruturante da organização social e econômica das populações”.
Em Coité do Nóia/AL percebe-se que a feira livre municipal possui uma relação histórica importante com o desenvolvimento da economia da cidade e até mesmo da organização espacial presente nesse município. De fato, a história da feira livre é mais antiga que a história da própria cidade emancipada.
A origem da feira livre coitenense inicia quando a cidade era apenas um pequeno aglomerado habitacional pertencente a Limoeiro de Anadia/AL, e possui uma contribuição importante para o desenvolvimento econômico e estrutural da cidade, tendo maior relevância a partir de 1978.
O presente trabalho tem como objetivo mostra uma análise sobre a contribuição da feira livre de Coité do Nóia para o desenvolvimento econômico do município e sua importância para os vendedores da feira.
Para tanto, esse trabalho inicia comentando sobre a história da feria livre de Cóite do Nóia, juntamente com a história da formação, consolidação e evolução do município, a partir dos relatos de experiência dos antigos moradores da cidade e de dados disponibilizados pela prefeitura municipal e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).



A HISTÓRIA DA FEIRA LIVRE NO MUNICÍPIO

Para analisar a importância da feira livre de Coité do Nóia/AL é necessário realizar uma análise história da feira juntamente com a do próprio município, iniciando pela formação dos primeiros núcleos de povoamento, enquanto Coité do Nóia ainda não era considerado uma cidade.
Ao fazer uma análise histórica do município a partir de dados disponibilizados pela prefeitura municipal (2014), observa-se que:

A colonização das terras do atual município de Coité do Nóia associa-se à história de Limoeiro de Anadia e Arapiraca. A família Nóia, pioneira daquela região, era proprietária das primeiras quatro casas que lá existiam, pelos idos de 1880, conforme depoimento do mais antigo morador da cidade. Manoel Jô da Costa, oriundo de Limoeiro de Anadia, fixou-se naquela área pouco tempo depois, dedicando-se à agricultura e à atividade pastoril. O local ligava-se a Limoeiro de Anadia e a Arapiraca por diversas veredas pequenas. Em razão da enorme quantidade daquelas árvores, o núcleo que começava a se formar recebeu o nome de Coité.
Por volta de 1922, na divisão administrativa do Estado de Alagoas, consta como um lugarejo pertencente ao município de Limoeiro de Anadia. Segundo a obra “Terra das Alagoas”, de Adalberto Marroquim, naquela época existia em Coité uma escola pública mantida pelo Estado.
Com o passar do tempo e a chegada de famílias procedentes de outros municípios, a comunidade foi aumentando. Desse modo, Manoel Marques, de Pernambuco, Manoel Cazuza, de Arapiraca, bem como as famílias Bernardino e Virgem, juntaram-se aos primeiros moradores do lugarejo que tomou forma de povoado. Um intercâmbio maior entre o povoado e as cidades vizinhas, proporcionado pela abertura de novas estradas, contribuiu decisivamente para que Coité do Nóia passasse a ocupar lugar de destaque na região [...].

Quando o pequeno lugarejo de Coité do Nóia começou a receber famílias procedentes de outros municípios, segundo relato de antigos moradores desse local também iniciou a prática da agricultura, principalmente com a plantação de grãos, e da pecuária, sobretudo com a criação de gado.
De acordo com o agricultor e antigo consumidor da feira livre Cícero Firmino (2014) essa agropecuária que se desenvolve na região vai dar início aos primeiros movimentos comerciais de Coité, que posteriormente deram origem a feira livre. Ele afirma que a feira livre tem seu início na prática de um antigo morador da cidade, chamado de Antonio Mirinda.
De acordo com Cícero, Antonio Mirinda era um pequeno agricultor rural das proximidades da cidade que praticava agricultura de subsistência. Além da prática agrícola, Antonio Mirinda também havia alguns terrenos de criação de animais, especialmente gado. Para aumentar a renda da família, Antonio passou a vender a carne de seu gado durante as manhãs de domingos na cidade, como ele não tinha condições financeiras de construir um estabelecimento próprio e suas vendas eram realizadas apenas uma vez por semana, ele passou a comercializar a carne dos animais em uma pequena barraca de madeira montada sobre a sombra de uma árvore em um terreno público de Coité, onde atualmente encontra-se a Praça Antônio Pedro de Albuquerque em frente a prefeitura da cidade.
Como naquela época, Antonio Mirinda não tinha condições de investir em anúncios, então o local na qual ele montava a barraca era um ponto de maior movimento e fluxo de mercadorias naquele pequeno povoado que futuramente se transformaria na cidade de Coité do Nóia, possibilitando que os moradores desse povoado tivessem um rápido conhecimento de seu ponto comercial. O hábito de vender apenas nas manhãs de domingo também foi outra estratégia usada por Antonio Mirinda para alcançar maior público, uma vez que suas vendas eram elaboradas em uma barraca e não eram realizados todos os dias. Ele precisava fixar um dia e horário certo da semana que facilitasse o contato com o público, e esse horário era o ideal, pois também era o dia e horário na qual as pessoas costumavam sair para aquele local para encontra e conversar com amigos e conhecidos.
De acordo com Cícero Firmino até esse momento, Coité do Nóia ainda era apenas um pequeno povoado conhecido como Coité, na qual o local que Antonio Mirinda utilizou para vender a carne dos animais era apenas um terreno público rodeado de residências e com uma ladeira bastante declive ao centro desse terreno. Naquele terreno não existia pavimentação, apenas algumas árvores na parte baixa do terreno, onde se deu a origem da feira. O esquema da figura 2 reconstitui aproximadamente como era o terreno que Antonio Mirinda iniciou a venda de carne na atual Praça Antônio Pedro de Albuquerque.



A iniciativa de Antonio Mirinda foi bem sucedida, pois não apenas atraia os moradores da cidade, mais também de comunidades próximas, que iam até a praça nos dias de domingo para compra a carne de gado de Antonio Mirinda e ao mesmo tempo para encontra amigos e tirar um tempo de laser no povoado.
De acordo com José Manuel da Silva, outro morador que vivenciou a história do município, no mesmo terreno que a carne era vendida, também os animais eram abatidos, sendo assim, uma espécie de matadouro do antigo povoado. Ele ainda comenta que logo, outros criadores de gado também passaram a vender a carne dos animais no mesmo dia, horário e local em que Antonio Mirinda, posteriormente a prática do abate dos animais tornou-se uma tarefa coletiva. A venda da carne dos animais, cada vez mais atraia um fluxo maior de clientes, que logo serviu de atrativo para que os donos de pequenos mercadinhos, conhecidos na região como bodegas, passassem também a montar barracas na feira para vender os seus produtos rurais, principalmente grãos e cereais, como milho, feijão, amendoim e outros. Dessa forma, os comerciantes da feira livre são formados por pequenos agricultores e pecuaristas rurais, que vêem a feira como um meio de vender os produtos do campo para complementar a renda familiar.
De acordo coma a Prefeitura municipal (2014) Coité do Nóia teve sua “elevação à categoria de município autônomo, através da Lei nº 2.616, datada de 21 de agosto de 1963. Desmembrado de Limoeiro de Anadia, teve sua instalação oficial em 24 de setembro de 1963”, deixando de ser o antigo povoado de Coité para ser a cidade de Coité do Nóia. Segundo Manuel (2014) pouco tempo após a emancipação da cidade o movimento comercial daquele terreno se intensificou, tanto em número de barracas, quanto em variedade de produtos, assim o movimento comercial passou a ser reconhecido pela população, e mais tarde pela prefeitura da cidade, como uma feira livre.
Ainda segundo Manuel (2014), apesar de seu crescimento, a feira passava por grandes dificuldades, uma delas era o fato dela estar instalada em um terreno público sem pavimentação. Em dias ensolarados a feira se desenvolvia nas sombras das árvores que havia naquele terreno, mas em dias de chuvas eram montadas barracas com cobertura de palhas de coqueiros. Porém, outros problemas como a grande quantidade de lama que se concentrava no terreno e as dificuldades de abatimento dos animais geradas pela chuva, impediam o desenvolvimento da feira em dias chuvosos. A feira livre surgiu com a venda de carne bovina, que passou a ser o principal produto comercializado, se a chuva impedisse o abatimento dos animais, não havia carne bovina na feira, e posteriormente a falta desse produto gerava um movimento de clientes bastante reduzido para os vendedores dos demais produtos.
Outro problema existente na feira livre era o foto do matadouro, local utilizado para o abatimento dos animais serem no mesmo terreno da feira e ainda, praticado em situações precárias, pois não havia as condições necessárias para realizar o abatimento dos animais.
Assim, diante das dificuldades, os vendedores de grãos e legumes desistiram da feira livre e partiram para outras formas tradicionais de comercialização de suas mercadorias, que eram apenas a comercialização direta com os consumidores e a venda em pequenas bodegas. Já os criadores de gados desistiram da venda de carne bovina e passaram a sobreviver apenas com a agricultura, ocasionando o fim da feira livre.
Em 1966 sobre campanha de Manuel Sebastião da Silva (prefeito da cidade naquele ano) a feira livre retorna novamente, mais as dificuldades anteriores ainda continuaram, e logo a feira entrou em declínio mais uma vez, cominando em um período de interrupção. Já em 1977, José Custódio da Silva (prefeito da cidade naquele ano) realizou um plano de medidas que tinham como fins o aperfeiçoamento da infraestrutura daquele terreno público onde a feira se realizava e o retorno da feira livre de Coité do Nóia.
Inicialmente José Custodio direcionou obras de escavação e remoção da declividade da praça, gerando um abismo onde foi utilizado para a construção de um conjunto de estabelecimentos para os vendedores da feria livre. Também foi realizada a pavimentação e iluminação daquele terreno, fatores esses que fizeram aquele terreno público ser registrado como praça, criando assim, a Praça Antônio Pedro de Albuquerque.
Entre os estabelecimentos construídos no centro da praça, estava o mercado da carne, um ambiente na qual a carne bovina podia ser comercializada com mais higiene e menos dificuldades, e pontos comerciais, na qual o responsável podia prestar o serviço de sua afinidade. Inicialmente a entrega do mercado da carne foi realizada sem cobranças de impostos para incentivar o retorno dos vendedores de carne bovina, já a entrega dos demais estabelecimentos foi realizada sobre condição da cobrança de impostos mensais.
Além da reforma da praça, foi construído um matadouro público em um local fora da praça, mais não muito distante daquele local, possibilitando aos vendedores de carne bovina o abatimento dos animais com maior higiene e em um local melhor apropriado, e sem a grande concentração de sujeira do abatimento dos animais na praça da cidade.
Após a conclusão das obras, campanhas de retorno da feira livre a trouxeram de volta, mas dessa vez as dificuldades iniciais estavam minimizadas, possibilitando uma etapa de crescimento. A figura 3 mostra algumas imagens da feira livre de Coité do Nóia na Praça Antônio Pedro de Albuquerque no ano 2000.



A partir desse momento, a feira intensificou-se, obteve um aumento significativo na quantidade de barracas e na variedade de produtos, dominando a venda de carnes, grãos, cereais e frutas, mais também estavam presentes produtos de menor foco como legumes, verduras, café da manhã, refeições, doces, farinha e outros produtos, prevalecendo, sobretudo os produtos agropecuários rurais da população local. Assim, a feira livre se desenvolveu e persiste até os dias atuais sem grandes crises, e como resultado do desenvolvimento alcançado a feira livre deixou de ser apenas uma prática comercial, passando a obter horizontes mais amplos, sendo esse, um fenômeno observado por Ribeiro et. al. (2005) nas feiras livres de outras cidades brasileiras, ao colocar que “feiras são mais que pontos de comercialização da produção da agricultura familiar. São também espaços públicos onde circulam alimentos, bens, pessoas e culturas. Além de serem o lugar das vendas, são também o local de encontro, da articulação política e sindical, da amizade, da reprodução da identidade e da cultura das muitas agriculturas familiares”. Por tudo isso, são espaços de grande potencial para ações coletivas.
A partir do fragmento anterior, fica claro que Ribeiro observou na feira livre do vale do Jequitinhonha no estado de Minas Gerais a diversidade das manifestações econômicas e culturais da própria população local, que se realizam durante as feiras livres. O mesmo fenômeno também pode ser observado na feira de Coité do Nóia, principalmente na década de 90, na qual a feira atingiu seu maior impacto econômico e tradicional sobre o município, ao mesmo tempo em que a feira livre passou a ser incentivada também com políticas públicas, brincadeiras e animações de carro de som.
Na década de 90, segundo José Manuel da Silva (2014), um antigo morador do município, os principais produtos da feira livre eram os grãos, cereais e a carne. Manuel destaca que “esses eram produtos de procura prioritária na feira, principalmente o feijão e o milho. Além desses produtos, existiam outros complementares, como verduras, legumes, frutas, doces, e outros”.
A análise do comércio local e de extrema importância para entender a evolução e a influência econômica da feira livre, tanto a influência da feira para o comércio local, como do contrário, ou seja, do comércio para a feira, como será exposto a seguir.
Até a década de 90 a cidade não havia grandes pontos comerciais, tais como supermercados, lojas de roupas, construção, entre outras. Antes dessa década, Manuel (2014) apresenta que na cidade existiam apenas pequenos pontos comerciais chamados de bodegas, na qual vendiam todos os produtos básicos e eram prestados os serviços essenciais do município. Sendo assim, essas bodegas tinham o papel de mercados de produtos alimentícios, de limpezas, de produtos essenciais para a casa, de lojas de roupa, de venda de gás, gasolina, e de óleo, prestavam os mesmos serviços e vendiam os mesmos produtos de uma papelaria, prestavam serviços de pagamento de contas. Dessa forma, quando as pessoais queriam usar de um determinado serviço ou compra certo produto, elas não procuravam um local especializado para a compra daquele produto ou que prestasse aquele determinado serviço, elas procuravam apenas por uma bodega.
No município, geralmente os produtos e serviços presentes em uma determinada bodega, também estavam presentes nas demais, com apenas algumas exceções que ocorriam de acordo com a localização da bodega e com as especializações de produtos rurais dos vendedores. No caso da localização, as bodegas que estavam mais próximas das escolas, disponibilizavam maior variedade de produtos escolares. No caso das especializações de produtos rurais, as bodegas que pertenciam a famílias agricultoras de grãos, ofereciam maior quantidade e variedade de grãos, já as bodegas que pertenciam a famílias agricultoras de verduras, tinham maior variedade de verduras e pequena ou nula variedade e quantidade de grãos, e assim por diante. Desta forma, algumas bodegas ofereciam produtos, principalmente rurais, que não eram oferecidos pelas demais.
A maior parte dos comerciantes da feira livre era composta pelos vendedores das bodegas. Cada um vendia, semanalmente, em seus pontos comerciais, alguns desses localizados na própria cidade, mais a maioria pertenciam aos povoados. A feira livre era o evento na qual a maior parte dos vendedores das bodegas do município, tanto da área urbana, quanto da área rural, se reuniam na cidade para vender seus produtos e obter uma renda complementar.
A partir do desenvolvimento da feira, juntamente com outros fatores, assim como o aumento da população municipal, foi observado um desenvolvimentos no comércio local. Muitas das bodegas desenvolveram-se para supermercados, valorizando o comércio local e abrindo as portas também para a chegada dos pontos comerciais especializados, como papelarias, lojas de moveis, lojas de roupas, lojas de construção e tantas outras.
Vale lembra que antes do desenvolvimento do comércio local, a cidade disponibilizava em seu comércio apenas os produtos essenciais para a população, como alimentos, produtos escolares, de limpeza e essenciais para a casa e ferramentas para o trabalho agrícola, assim, para os moradores da cidade obter outros produtos tais como móveis para a casa, maiores variedades em materiais de construção serviços bancários entre outros, precisavam se deslocar para as cidades circunvizinhas, principalmente a cidade de Arapiraca/AL.
Com o crescimento do comércio local, os moradores do município gradativamente diminuíram a realização de compras em municípios circunvizinhos para consumirem os produtos ofertados pelo comércio local, embora ainda se desloquem para os municípios circunvizinhos apenas quando o produto desejado não possui no comércio local.
Na década de 90 a prefeitura passou a incentivar a feira com a prática de oferecer transportes públicos gratuitos para os povoados da cidade, a fim de transportar a população do campo para o local da feira livre na cidade. Desta forma, os pontos comerciais que se instalaram no local onde ocorria a feira livre e nas proximidades da feira passaram a obter lucros significativos durante a ocorrência das feiras livres, esse fator deve posteriormente fortalecer esses pontos comerciais que passaram a abri os primeiros supermercados de Coité do Nóia.
Outras formas de incentivo que também iniciaram na década de 90 foram a animação da feira livre com o uso de carro de sons, sorteios de brindes, músicas, apresentações culturais e musicais.
Segundo José Carlos de Souza (2014), um ex-vendedor da feira livre, os sorteios de brindes eram realizados por pessoas de maior poder aquisitivo, e eram realizados com os consumidores e vendedores da feira livre. Cada barraca na feira recebia um número de cupons para distribuir aos consumidores, a quantidade de cupons que o consumidor recebia equivalia ao valor da compra realizada pelo consumidor na barraca. Após receber os cupons, o consumidor entregava esses para o locutor que ficava no carro de som animando a feira, onde, ao final da feira, esse locutor realizava o sorteio de brindes para os vendedores e consumidores que entregaram os cupons. Para cada cupom sorteado, eram distribuídos dois brindes iguais, um para o vendedor e outro para o consumidor.
Já o locutor ficava no carro de som animando a feira livre da cidade a partir de músicas, anúncios e de manifestações culturais, tais como apresentação de grupos de danças e da participação dos consumidores que realizavam provas, cantavam músicas, contavam piadas, tocavam instrumentos, entre outras ações que eram uma forma de atrativo da população do para a feira.
A partir de 2005, a feira livre deve gradativamente passar por um processo de diminuição das vendas e da lucratividade dos vendedores devido ao fortalecimento do comércio local e as mudanças na estrutura da própria feira.

A TRANSFERÊNCIA DA FEIRA PARA A RUA HIGINO CAZUZA

Em 2005 a Praça Antônio Pedro de Albuquerque foi reformada e durante a reforma a feira foi deslocada para a Rua 15 de Novembro, ao lado dessa praça, conforme mapa da figura 4. Porém a ideia da reforma da praça, era torná-la um espaço de laser para os coitenenses, dessa forma, não haveria na praça espaço para a realização da feira, fato que criou a necessidade da estruturação de outra rua para receber a feira livre, que teve de ser deslocada.
A figura 4 mostra um mapa da área urbana central do município com os locais na qual a feira livre esteve presente. Nesse mapa observa-se que a feira surgiu na Praça Antônio Pedro de Albuquerque, onde se encontra a prefeitura municipal da cidade e logo depois ela foi transferida para a Rua 15 de Novembro.



A feira livre ficou cerca de seis meses na Rua 15 de Novembro, porém alguns problemas impediram a permanecia da feira naquele local. Primeiramente, a feira em seu contexto histórico, sempre esteve ligada ao comércio da carne bovina, dessa forma o mercado da carne e a feira não poderiam ser separados, para não ocasionar algum prejuízo econômico por parte de algum desses produtos. A referida rua é um local de prestação de serviços voltados para a educação, pois ela possui as duas maiores escolas municipal do município e pontos comerciais voltados a atender as necessidades escolares. A feira livre por sua vez, na rua em que estava instalada ocasionava uma sujeira que era prejudicial às atividades educacionais, principalmente pela ausência de um mercado da carne no local, na qual os vendedores de carne bovina e de outros tipos não aceitavam se separar da feira, devido a possibilidade de prejuízos econômicos, então comercializava a carne em barracas naquela mesma rua.
Após seis meses naquele local, a feira foi deslocada para o outro lado da mesma rua, se estabelecendo na frente do posto de saúde, na qual a sujeira gerada passou a prejudicar o funcionamento do posto de saúde. Ao mesmo tempo, a prefeitura realizava a construção do novo mercado da carne na Rua Higino Cazuza, preparando o local para receber a feira livre.
Assim no final de 2006 a feira livre de Coité do Nóia foi transferida para a Rua Higino Cazuza, na qual a prefeitura conseguiu ter um maior controle de limpeza e organização do espaço. De fato, segundo relato dos moradores entrevistados, o problema ocasionado pela limpeza da feira era a sujeira gerada pelo abatimento e sujeira gerada na comercialização de carne nas barracas da feira livre, pois estas não tinham estrutura adequada para manter a limpeza do ambiente. Esse problema, entretanto foi resolvido com a construção do novo mercado da carne.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como comentado anteriormente, a feira livre foi um dos fatores contribuintes para o desenvolvimento do comércio local do município, mais sua importância econômica vai ainda mais além. Segundo o auxiliar de vendedor de feria José Carlos da Silva Souza (2014), a feira livre é uma relevante fonte de renda para os pequenos agricultores rurais do município. Embora atualmente a feira não seja a principal fonte de renda de parte de seus vendedores, mais para aqueles que dependem exclusivamente da agricultura familiar ainda é a fonte de renda prioritária, assim como Carlos (2014) coloca que “para muitos feirantes, a feira livre ajuda a complementar a renda, mais não é a renda principal. Porém, para aqueles que vivem do trabalho na roça, a feira funciona como complementação do pouco que ganha”, tendo a feira um forte impacto econômico em sua renda mensal.
Segundo os moradores entrevistados atualmente a feira livre não possui mais o mesmo potencial de vendas e atribuição de renda que havia antes, posteriormente devido ao fortalecimento do comércio local, na qual, fez com que muitas pessoas que antes obteriam seus produtos semanais na feira livre, agora obtêm esses produtos no próprio comércio local.
Atualmente a maior parte dos consumidores da feira livre são os habitantes do campo, pois apesar do fortalecimento do comércio local ter sido um fenômeno tanto da cidade quanto do campo, nesse ultimo ele não ocorreu com tanta força como na cidade. Assim, as pessoas do campo ficaram dependentes do comércio da cidade, e com o fornecimento de transportes gratuitos da prefeitura para o deslocamento dos moradores do campo para a feira livre na cidade, a população do campo acaba sendo mais incentivada para obter seus produtos semanais na feira livre.
Do início da feira na atual Praça Antônio Pedro de Albuquerque até a feira atual na Rua Higino Cazuza, não foi apenas a localização e a organização da feira que foi modificada, mais também os produtos que a feira fornece para os consumidores. Se antes os principais produtos da feira eram os grãos, cereais e as carnes, atualmente são as frutas, legumes e verduras. Esse fato é decorrente das mudanças no comércio local, pois se antes o principal meio dos habitantes obterem grãos e cereais era semanalmente na feira livre, atualmente as pessoas obtém esses produtos em mercados de venda de grãos ou por venda direta.
Outro aspecto está na produção de grãos do município, atualmente a maior parte dos grãos produzidos no município tem sua origem externa, ou seja, em outros municípios. Esse fato ocorre devido à diminuição da produção de grãos no próprio município, já que os antigos locais utilizados para a produção desses grãos são utilizados para a prática da pecuária ou para a produção de fumo. Dessa forma, no município ocorreu um aumento na demanda de grãos, necessitando que os vendedores de grãos buscassem o produto em outros locais. Desta forma, os habitantes da cidade que antes procuravam comprar os grãos semanalmente na feira passaram a compra anualmente nos mercados em maiores quantidades (geralmente em sacos) e preservá-los para manter sua durabilidade nesse período.
Os produtos que antes eram vendidos como produtos complementares da feira livre atualmente são os principais produtos da feira, e esses marcam a feira pela sua variedade, cores e formas, que chamam a atenção dos consumidores, como no caso da frutas e legumes.
Como as frutas, legumes e verduras são produtos perecíveis e precisam ser consumidos rapidamente, e a feira livre é formada principalmente de produtos da agricultura familiar, cabe lembra que na feira esses produtos geralmente são oferecidos com uma maior qualidade do que nos mercados. Enquanto nos mercados frutas, legumes e verduras geralmente tem sua origem em áreas de produção distantes e precisam ser transportados por meio de veículos até chegar ao local de comércio, geralmente encontram-se de forma menos atrativas e estragam-se mais rapidamente. Alguns consumidores do município afirmaram em entrevista que frutas, verduras e legumes oferecidos pela feira livre geralmente são melhores do que os oferecidos nos mercados locais do município, pois enquanto esses produtos na feira são obtidos no campo e imediatamente comercializados na feira livre, os dos mercados têm que passar por processos de transporte que podem diminuir a qualidade do produto, servindo assim, como uma forma de incentivo para perpetuação da feira livre no município. Esse fato é observado nas feiras em geral pela especialista em alimentos Regina Oliveira, na qual em reportagem para a Globo (2014), tratando-se dos feirantes comenta que “Se ele procura qualidade, nas feiras você encontra produtos mais fresquinhos. A feira possibilita também você negociar direto com o proprietário e, com isso, conseguir algumas vantagens financeiras”.
Quanto à oferta da carne, ainda é um produto oferecido no mercado da carne da feira livre do município, porém já não possui mais a mesma força que possuía antes. O desenvolvimento do comércio dos mercados locais descentralizou a prioridade de comercialização da carne na feira livre, passando essa a ser ofertada principalmente nos mercados de carnes particulares espalhados pelo município.
As antigas manifestações de animação da feira livre também foram apagadas no tempo, principalmente após a primeira transferência da feira livre. Assim, atrações como a animação do carro de som, sorteios de brindes e apresentações culturais deixaram de ser praticados na feira livre, tendo hoje apenas a comercialização dos produtos.
Contudo, chegou-se a conclusão que a feira livre é um contribuinte fundamental para o desenvolvimento do comércio local do município, tal como é de relevante fonte de renda para seus vendedores, especialmente aqueles que sobrevivem da agricultura familiar.

REFERÊNCIAS

AGAPIO, Roberto. Feira Livre. Roberto Agapio. Disponível em: <http://robertoagapio.fot.br/texto01.htm>. Acessado em: 04 fev. 2014.

PIERRI, Maria Clara Queiroz Mauricio, VALENTE, Ana Lucia E. F. A feira livre como canal de comercialização de produtos da agricultura familiar. 48º Congresso da SOBER, Campo Grande, 2010. Disponível em:<http://www.sober.org.br/palestra/15/234.pdf>. Acessado em 05 fev. 2014.

Prefeitura Municipal. História. Coité do Nóia. Disponível em: http://www.coitedonoia.al.gov.br/portal1/municipio/historia.asp?iIdMun=100127021. Acessado em: 04 fev. 2014.

RIBEIRO, Eduardo Magalhães; et al. Programa de apoio às feiras e à agricultura familiar no Jequitinhonha mineiro. Agricultores. v. 2 n. 2. 2005. Disponível em: <http://aspta.org.br/wp-content/uploads/2011/05/Agriculturas_v2n2.pdf>. Acessado em: 05 fev. 2014.

Feira ou mercado? Onde é melhor comprar frutas e verduras? Bom dia Brasil. Disponível em: <http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL806644-16020,00-FEIRA+OU+MERCADO+ONDE+E+MELHOR+COMPRAR+FRUTAS+E+VERDURAS.html>. Acessado em 17 fev. 2014.

Por: Santos. Elaborado em: 29/01/2014. Publicado em: 22/08/2017. Atualizado em: 22/08/2017.
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