CONSIDERAÇÕES INICIAIS |
Para explicar a distribuição das espécies na superfície do planeta Terra foram criadas algumas teorias, que buscam estabelecer padrões na distribuição dessas espécies. Uma dessas teorias é o “gradiente latitudinal de diversidade”, que busca explicar a distribuição de espécies no planeta com base na variação da latitude (distância de qualquer ponto do planeta em relação à linha do Equador).
O QUE É O GRADIENTE LATITUDINAL DE DIVERSIDADE? |
De acordo com o gradiente latitudinal de diversidade, a diversidade de espécies no planeta aumenta conforme diminui a latitude, assim, os trópicos possuem uma maior abundância de espécies em relação as áreas temperadas, que por sua vez, possui uma maior variedade de espécies que as áreas polares. O fato foi constatado em um estudo com a variedade de espécies de mamíferos e aves do em uma faixa do Alasca à América Central, onde ao Alasca foram registrados 222 espécies de aves e 40 espécies de mamíferos, ao longo do trajeto, o número de espécies em ambos os tipos aumentou de forma que na Califórnia foram registrados 286 aves e 100 mamíferos, e na Costa Rica, 603 aves e 140 mamíferos. Esse padrão de distribuição de espécies é chamado de “gradiente latitudinal de diversidade” (Pianka apud MARTINS; SANTOS, 1999. p. 237).
O gradiente latitudinal de diversidade pode ser relacionado com a distribuição de espécies da borboleta Rabo-de-Andorinha. No continente Americano, a quantidade de espécies desse grupo de borboletas, aumenta conforme se aproxima da linha do equador e diminui conforme aumenta a latitude, tanto para o Norte, quanto para o Sul. O mesmo ocorre ao observar a distribuição dessa borboleta no sentido Norte-Sul, da Oceania à Ásia, apenas surge uma exceção, quando observado o sentido Norte-Sul, da África à Europa, devido a existência do deserto do Saara.
Porém, de acordo com as pesquisas de David Currie e Viviane Paquin, da Universidade de Ottawa, a distribuição de espécies vegetais no planeta, apresenta uma relação irregular com o gradiente latitudinal de diversidade. Currie e Paquin elaboraram um mapa com a distribuição de espécies arbóreas na América do Norte e verificou que a diversidade de espécies não acompanha fielmente o gradiente de diversidade, para esses pesquisadores, o fator que se associava com esta distribuição era a quantidade de evapotranspiração de cada local, porém, este fator era fortemente influenciado pela produtividade potencial – “quantidade de material vegetal acumulado por fotossíntese em uma dada região, em um intervalo de tempo”.
A produtividade potencial está relacionada com o clima, sendo este mais propício para produtividade potencial quando se apresenta quente, úmido e livre de variações sazonais. O calor é fonte de energia para os vegetais elaborarem a fotossíntese, daí a importância de climas quentes para a produtividade potencial, ao mesmo tempo, o calor influência a evaporação e posteriormente a umidade – áreas mais chuvosas, possuem uma maior disponibilidade de água para fotossíntese dos vegetais – já as variações sazonais podem diminuir significativamente a quantidade de decompositores, sendo esta, bastante intensa em áreas de alta latitude. Em geral, as regiões próximas da linha do Equador possuem as características climáticas mais propícias para a alta produtividade potencial.
A disposição da “biomassa” vegetal em forma de estratos é denominada “estrutura”, áreas com alta produtividade potencial possuem uma maior massa vegetal em sua “estrutura”, ou seja, uma grande variedade de tamanhos e espécies de árvores, formando uma densa e complexa vegetação. A camada de “folhagens das árvores muito acima do chão [ é ] conhecida como dossel” (BUTLER). O dossel é constituído por copas de diferentes tamanhos de vegetais que formam camadas de folhas e galhos em diferentes alturas. A camada de folhagem superior do dossel filtra a maior parte da iluminação solar, e também retém parte da água da chuva, assim, o dossel influência na umidade, intensidade de luz, temperatura e na velocidade dos ventos do interior da floresta, criando os chamados “microclimas”, que são essencialmente condições climáticas criadas pela vegetação local ao qual influenciam a diversidade de animais e dos próprios vegetais.
Quanto mais complexa é a “estrutura” vegetal, maior a quantidade de espécies de animais, por oferecer maiores possibilidades em condições de alimento, movimento e abrigo. Assim, a maior abundância de espécies animais encontra-se nas áreas onde existe maior produtividade potencial, que são áreas essas, próximas da linha do Equador, relacionando-se com o gradiente de diversidade.
Porém, nem todos os grupos de espécies relacionam-se com o gradiente de diversidade, como as Afídias (exemplo das moscas verdes fertilizantes), onde são conhecidas mais de 4000 espécies, porém a maior partes destas estão nas áreas temperadas e a menor parte delas nas áreas tropicais, contrariando o gradiente de diversidade. No caso das Afídias, a maioria das espécies é dependente de um único tipo de planta, assim a grande diversidade da vegetação tropical é desvantajosa à sua sobrevivência, sendo assim, mais adaptável a áreas temperadas, onde a vegetação é menos complexa.
Além das condições climáticas, existem também fatores historicamente evolucionistas que contribuíram para uma maior biodiversidade nas áreas tropicais. Segundo estudos de fósseis de Peter Crane e Scott Lidgard do Field Museum of Natural History de Chicago, as Floríferas (Angiospermas – plantas de sementes desprotegidas por fruto), que atualmente concentram-se nos trópicos e possuem a maior variedade de espécies, surgiram e predominaram nas áreas tropicais, se estabelecendo nessa área, foram evoluindo com o tempo e ganhando a importância que hoje esse grupo vegetal fornece para varias outras espécies.
A ideia que explica a evolução e o desenvolvimento das Floríferas está relacionada com a sua localização, as áreas que estão entre os trópicos são menos afetadas com distúrbios, como as glaciações, do que as demais áreas do planeta. As áreas intertropicais são poucos afetados com distúrbios de alta variação de temperatura, sendo essas áreas, durante sua história evolutiva, atingidas por eventos de aumentos de temperatura, mais com pouca variação de temperatura se comparado com os distúrbios que atingiram as áreas temperadas durante as glaciações. A variação de temperatura dificulta o desenvolvimento da biodiversidade, pois dificulta a sobrevivência de animais e seres decompositores, dificultando posteriormente o desenvolvimento da variedade vegetal, além do fato que baixas temperaturas podem criar nevasca (gelo) e queimar a folhagem das plantas, influenciando na fotossíntese.
CONSIDERAÇÕES FINAIS |
Portanto, de acordo com o gradiente latitudinal de diversidade a diversidade de espécies no planeta aumenta conforme maior proximidade da Linha do do Equador e diminui conforme se aproxima dos pólos, mas embora esse gradiente se aplique a maioria das espécies conhecidas, não se aplicam a todas, pois está relacionado com a adaptação das espécies ao meio, fator que é mais propício em áreas de maior produtividade potencial e climas com menor variação de temperaturas.
REFERÊNCIAS |
BROWN, J. & LOMOLINO, M. Padrões de biodiversidade. In: ______. Biogeografia. Ed. FUNPEC. Ribeirão Preto, SP. 2006. p. 38-62.
MARTINS, Fernando Roberto; SANTOS, Flavio Antonio Maës dos. Técnicas Usuais de Estimativa da Biodiversidade. Revista Holos. Departamento de Botânica, Universidade Estadual de Campinas,1999.
BUTLER, Rhett A. O que é o dossel?. Mongabay. Tradução de Dr. Henrique Nascimento. Disponível em <http://world.mongabay.com/brazilian/004.html>. Acessado em 22 jul. 2013.
Por: Santos. Elaborado em: 22/07/2013. Publicado em: 17/08/2017. Atualizado em: 17/08/2017. Obrigado pela sua atenção, qualquer dúvida, falha ou sugestão, deixe seu comentário ou entre em contato conosco. |
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